quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Cenas do quotidiano


Por razões pessoais tenho-me deslocado nestes últimos tempos, várias vezes  a um hospital público. O ambiente hospitalar não me incomoda nada, apareçam doentes quer com a cabeça partida quer envoltos em pensos ou deitados numa maca.Nunca me fizeram qualquer impressão estas situações. Por isso como tenho de esperar vou ouvindo e absorvendo todas as lamúrias das pessoas que se deslocam ali para serem tratadas.
Tivesse eu, engenho e arte que não precisaria de pesquisar nada para escrever, não digo, um livro, mas pelo menos um conjunto de crónicas ou relatos passados durante aquele tempo de espera até ser atendida pelo médico.
Como não tenho esse talento apenas vou relatar o que pode acontecer em três horas numa sala de espera num hospital, numa consulta externa.

10h-Tirar uma senha (esperar). A sala tem seguramente 100 pessoas que deverão ser atendidas até às 14h. Um calor infernal.
10,15h-Bom-dia está isenta? ( a empregada refere-se ao pagamento da consulta), eu não sei se estou, mas acho que não e para não fazer muitas perguntas digo que não e pago 4 euros e meio e sou avisada que o meu médico ainda não chegou. Após o pagamento vou sentar-me e aguardo.Sento-me e já a companheira da cadeira do lado me pergunta quem é o médico e qual a maleita que tenho, acabando eu por saber também o que se passa com ela. Num local onde todos estamos fragilizados as conversas fluem abertas e tudo se conta.
Dei por mim a saber que as duas criaturas que estavam em pé à minha frente se conheciam de venderem na feira e que uma se tinha queimado com óleo e outra tinha caído dum escadote porque andava a ajudar a irmã a caiar a casa ( que é alentejana e tem a mania da caiação). Enfim acabou por aparecer um pai com um filho que se tinha cortado com um vidro e cortou o tendão da perna, achando este pai que as férias só fazem mal aos putos e estragam a vida dos pais ( por causa daquilo vai ficar sem jogar no computador). Apareceu ainda uma mãe com uma filha que se tinha queimado com sopa a ferver, e que nestas circunstancias deve-se tirar a roupa e lavar com água fria (nada de manteiga como diziam os antigos...).Ao canto estava uma mulher que tinha os olhos todos negros e a feirante lhe perguntou logo se tinha sido o marido que lhe tinha dado porrada, ao qual ela respondeu afirmativo, e a feirante respondeu que já estava casada há 20 e tal anos e o marido nunca lhe tinha batido... Lá mais para trás estavam velhos sós que nada diziam e outros em macas acompanhados pelos bombeiros. Outra criatura contou-me que tinha sido operada à coluna e agora estava ali para ser operada a um pulso.Enfim fui ouvindo...
13h- Chamaram pelo meu nome, entrei e o médico disse-me que estava tudo bem e que para a próxima já não vai ser ele, pois vai trabalhar para outro país. Desejei-lhe boa-sorte.Tirei outra senha para carimbar as papeladas. Eram 13, 30h quando finalmente estava na rua.Para a próxima terei outras histórias.Tivesse ido eu a uma instituição privada e nada saberia da vida...

1 comentário:

  1. Oh Augusta,olha que não. Eu fui há dias à clinica de Sto António, na Reboleira (privada) e só para dizer que tinha chegado, para uma consulta previamente marcada, esperei 34 senhas (menos as desistências). Depois disso a assistente do médico ainda me disse que eu estava atrasado para a consulta. Cá para mim o defeito é daquele povo que Deus colocou no jardim à beira mar plantado . . . .

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